Introdução
Em um setor onde a segurança do paciente é prioridade máxima, o gerenciamento de riscos em saúde assume um papel central nas estratégias de qualidade e governança clínica. O livro O Profissional de Gerenciamento de Riscos em Saúde: o Papel, o Perfil e Desafios examinam, sob a perspectiva da realidade brasileira, o protagonismo crescente desse profissional. A obra analisa desde a constituição do perfil ideal até os obstáculos enfrentados na prática, destacando a importância de se institucionalizar a cultura de risco nas organizações de saúde.
Complementando essa perspectiva nacional, o Capítulo 5 da obra Risk Management for Healthcare Organizations, publicada pelo American Society for Healthcare Risk Management (ASHRM), oferece uma visão estratégica, técnica e sistemática da gestão de riscos sob a ótica norte-americana. A integração das duas abordagens fornece um panorama robusto, aplicável tanto ao setor público quanto privado.
1. Papel do Profissional de Gerenciamento de Riscos em Saúde
O profissional de gerenciamento de riscos é um agente estratégico na promoção da segurança assistencial. Seu trabalho vai além da simples reação a eventos adversos; ele deve atuar de forma proativa e preventiva, antecipando falhas, mapeando riscos e propondo soluções sustentáveis. Entre as funções principais destacam-se:
- Monitoramento contínuo de indicadores assistenciais;
- Coordenação de investigações de incidentes;
- Formulação e aplicação de planos de mitigação de riscos;
- Apoio à liderança na tomada de decisão baseada em evidências;
- Condução de programas de capacitação em segurança do paciente.
Esse papel exige um alto nível de especialização, conhecimento de regulamentações nacionais (como a RDC 36/2013 da ANVISA) e domínio de metodologias de análise de risco, como RCA (Root Cause Analysis) e FMEA (Failure Mode and Effects Analysis).
2. Perfil e Competências Requeridas
O livro destaca que o perfil ideal do profissional de risco em saúde envolve três dimensões:
Técnica: conhecimento em legislação sanitária, sistemas de saúde, vigilância sanitária, biossegurança e controle de infecções;
Gerencial: capacidade de articulação entre setores, visão sistêmica, análise crítica e liderança;
Comportamental: empatia, escuta ativa, habilidade de mediação de conflitos e compromisso com a cultura justa.
Além disso, há ênfase na formação continuada e interdisciplinar. Enfermeiros, farmacêuticos, médicos e administradores podem desempenhar esse papel, desde que possuam uma base sólida em qualidade e segurança.
3. Principais Desafios no Contexto Brasileiro
No cenário nacional, os profissionais enfrentam obstáculos significativos para implementar programas robustos de gestão de riscos, como:
Baixo engajamento da alta gestão;
Cultura punitiva, que desencoraja a notificação de eventos adversos;
Ausência de sistemas informatizados de notificação;
Deficiência de dados confiáveis para análise de causa;
Recursos humanos limitados e sobrecarregados.
Para enfrentar esses desafios, o livro propõe estratégias como o investimento em educação permanente, a criação de núcleos internos de segurança e a incorporação de protocolos padronizados de atendimento e registro.
4. Complemento Internacional: Capítulo 5 de Risk Management for Healthcare Organizations
O Capítulo 5 da obra americana foca na conformidade regulatória (compliance) e nas práticas de mitigação de riscos organizacionais. A obra descreve um modelo de governança robusto, sustentado por pilares como:
- Gerenciamento da Conformidade Corporativa
O capítulo detalha como as organizações devem desenvolver e manter um programa de conformidade abrangente, que envolva:
- Um código de conduta claro;
- Mecanismos de denúncia protegida (whistleblower systems);
- Auditorias internas regulares;
- Treinamentos obrigatórios sobre ética e privacidade;
- Estrutura de reporte direta ao Conselho Administrativo.
b) Gestão da Segurança da Informação
Devido ao crescimento dos prontuários eletrônicos e da telemedicina, o risco de vazamento de dados tornou-se central. O capítulo recomenda medidas como:
- Autenticação multifatorial;
- Monitoramento de acessos;
- Políticas de acesso mínimo necessário;
- Criptografia de dados sensíveis.
c) Análise de Eventos Críticos e Quase-Erros
Há um forte incentivo ao aprendizado organizacional por meio da análise de quase-erros. O foco não é punir, mas identificar falhas sistêmicas ocultas (falhas latentes) e corrigi-las preventivamente.
Essas práticas reforçam a importância de uma abordagem centrada na cultura da segurança, altamente alinhada com as recomendações do livro brasileiro.
5. Case de Sucesso Nacional: Hospital São Rafael (BA)
O Hospital São Rafael, em Salvador (BA), é um exemplo bem-sucedido da aplicação de metodologias de melhoria contínua no contexto do gerenciamento de riscos. Em 2013, a instituição enfrentava uma alta taxa de absenteísmo no setor de call center. Ao implantar a metodologia A3 — uma abordagem estruturada para análise e solução de problemas — o hospital conseguiu:
- Realizar uma análise de causa eficaz;
- Identificar fatores comportamentais, organizacionais e ergonômicos;
- Implementar ações corretivas como readequação de jornada, ergonomia de estações e capacitação comportamental.
Resultados:
- A taxa anual de absenteísmo caiu de 5,26% para 3,2% em dois anos;
- O índice mensal, em alguns períodos, ficou abaixo de 2,5%;
- A metodologia foi expandida para setores como UTI, Pediatria e Recepção.
Este case ilustra a eficácia da integração entre gestão de pessoas e análise de risco assistencial, com benefícios que vão além da segurança do paciente, alcançando eficiência operacional e melhoria do clima organizacional.
Conclusão
A leitura do livro O Profissional de Gerenciamento de Riscos em Saúde em conjunto com o Capítulo 5 de Risk Management for Healthcare Organizations oferece uma formação sólida e abrangente para qualquer profissional que deseje atuar com excelência na área. Enquanto a obra brasileira fornece o panorama local, com ênfase em cultura organizacional, práticas do SUS e realidade dos hospitais públicos e privados, a obra americana apresenta modelos consolidados, regulamentações internacionais e ferramentas de suporte à decisão.
Em um setor tão sensível como o da saúde, o gerenciamento de riscos não é apenas uma função estratégica — é uma responsabilidade ética. Profissionais bem preparados são a chave para transformar instituições em ambientes seguros, resilientes e sustentáveis.
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Referências
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC n.º 36, de 25 de julho de 2013. Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 26 jul. 2013.
CAMARGO, Flávia R. de; CÂNDIDO, Andréa C. O profissional de gerenciamento de riscos em saúde: o papel, o perfil e desafios. São Paulo: Martinari, 2019.
CARROLL, Robert L. (Ed.). Risk management handbook for health care organizations. 6. ed. San Francisco: Jossey-Bass/American Society for Healthcare Risk Management (ASHRM), 2011. Cap. 5.
INSTITUTO HUMANA. A Metodologia A3 na área da saúde: case Hospital São Rafael. Salvador: Hospital São Rafael, 2015. Disponível em: https://www.institutohumana.com.br. Acesso em: 06 maio 2025.